A inteligência Artificial

A IA não é um campo novo; grande parte de sua teoria e sustentação tecnológica foram desenvolvidas nos últimos 70 anos por cientistas computacionais como Alan Turing, Marvin Minsky e John McCarthy. Na América do Sul, a inteligência artificial também tem sido discutida há bastante tempo. Como o professor John Atkinson, da Universidade Adolfo Ibáñez (Santiago do Chile), nos disse: “Trinta anos atrás, a IA na América do Sul estava em grande parte limitada às universidades. Não chegava às empresas. Isso mudou nos últimos anos”.

A IA pode aumentar o VAB da economia brasileira em US$432 bilhões, o que representa uma elevação de 0,9 ponto percentual em relação ao cenário da linha de base. Deste montante, US$192 bilhões virão do canal de aumento da capacidade da mão de obra e do capital, US$166 bilhões do canal de automação inteligente e os restantes US$74 bilhões, do canal de difusão da inovação.

O setor público do país é vasto, sendo responsável por aproximadamente 35 por cento do valor agregado da economia, mas a qualidade dos serviços públicos é um dos objetos de maior descontentamento popular. A IA pode melhorar os serviços públicos nas mais diversas áreas, do transporte ao controle de doenças.

Hoje, o termo refere-se a diferentes tecnologias que podem ser combinadas de diversas formas para:

1) Perceber Visão computacional e processamento de áudio, por exemplo, são capazes de reconhecer ativamente o mundo ao seu redor por meio da aquisição e processamento de imagens, sons e voz. O reconhecimento facial nos quiosques de controle de fronteiras é um exemplo prático de como a produtividade pode melhorar.

2) Compreender O processamento de linguagem natural e os mecanismos de inferência permitem que sistemas de IA analisem e entendam a informação coletada. Esta tecnologia é utilizada para alimentar o recurso de tradução de idiomas nos resultados de mecanismos de busca.

3) Agir Um sistema de IA pode agir por meio de tecnologias como sistemas especialistas e mecanismos de inferência ou adotar ações no mundo físico. Recursos como piloto automático e frenagem assistida em carros são exemplos disso.

Essas três habilidades são sustentadas pela capacidade de aprender com a experiência e se adaptar com o tempo. Até certo ponto, a IA já existe em vários setores econômicos, mas cada vez se tornará mais parte de nossa vida diária.

Dois fatores-chave estão possibilitando o crescimento da IA:

A) Acesso ilimitado a potencial de computação. Estima-se que a computação em nuvem pública tenha atingido quase US$70 bilhões em 2015 no mundo todo. O armazenamento de dados também se tornou abundante.

B) Crescimento do “big data”. Em um mundo com uma quantidade cada vez maior de dispositivos conectados, o total de dados registrou uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de mais de 50 por cento desde 2010. Como nos disse Barry Smyth, professor de Ciências da Computação da University College Dublin: “Os dados são para a IA o que o alimento é para os seres humanos”. Portanto, em um mundo cada vez mais digital, o crescimento exponencial da quantidade de dados está constantemente alimentando melhorias da IA.

O IMPACTO DA IA

Para se entender o valor da IA como novo fator de produção, a Accenture, em associação com a Frontier Economics, modelou o impacto potencial da IA para cinco economias que, juntas, geram cerca de 85 por cento da produção econômica da América do Sul.

Nossos resultados revelam oportunidades notáveis para a criação de valor. Constatamos que a IA pode agregar até 1,0 ponto percentual ao crescimento anual desses países—um poderoso remédio para as baixas taxas dos últimos anos.

Estímulo ao crescimento econômico nacional

No intuito de estimar o potencial de crescimento econômico da IA, comparamos dois cenários para cada país. O primeiro é o cenário da linha de base, que mostra a taxa de crescimento econômico projetada com base nos atuais pressupostos relativos ao futuro. O segundo é o cenário da IA, que apresenta a previsão de crescimento econômico quando o impacto da IA é absorvido pela economia. Como o impacto de uma nova tecnologia leva algum tempo para ser assimilado, utilizamos 2035 como ano de comparação (ver Apêndice: “Modelo do impacto da IA sobre o VAB”). Segundo nossa modelagem para Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Peru, a IA apresenta o maior benefício econômico em termos absolutos para o Brasil, atingindo um adicional de US$432 bilhões no seu Valor Agregado Bruto (VAB) em 2035. Isto representaria um incremento de 0,9 ponto percentual no crescimento para aquele ano. Chile e Peru poderiam aumentar seu VAB em um ponto percentual total em 2035 graças à inteligência artificial.

A Colômbia, por sua vez, poderia obter uma expansão adicional de 0,8 ponto percentual. As comparações entre países, porém, mascaram o impacto significativo que a IA pode ter sobre as economias aparentemente mais atrasadas. Por exemplo: espera-se que em 2035 a IA aumente a taxa de crescimento da Argentina de 3,0 por cento para 3,6 por cento. Como proporção do VAB, tratase do menor incremento decorrente da IA dentre os 5 países. No entanto, mesmo esta contribuição relativamente modesta ainda representa um valor considerável: quase US$59 bilhões de VAB adicional, levando a um VAB total de US$702 bilhões em 2035. Em toda a América do Sul, o crescimento mais rápido possibilitado pela IA reduzirá o número de anos necessários para cada economia nacional dobrar de tamanho (Figura 11). No geral, espera-se que a IA desencadeie benefícios consideráveis para os países da região, redefinindo o “novo normal” como um período de crescimento econômico mais alto e duradouro.

O EFEITO POTENCIAL DA IA SOBRE O CRESCIMENTO ECONÔMICO NACIONAL

Ao focar em cada país separadamente, podemos analisar os detalhes do resultado do impacto da IA. Comparamos o tamanho de cada economia em 2035 na linha de base com um cenário no qual a IA já foi absorvida pela economia. Podemos também constatar a importância relativa dos três canais através dos quais a IA surte efeito. Finalmente, analisamos a estrutura de cada economia, assim como a sua capacidade de absorver novas tecnologias. Ao avaliar a importância relativa dos diferentes setores e os pontos fracos de cada economia, detectamos onde se encontram o maior potencial e as áreas que requerem melhorias para que os países da América do Sul aproveitem as oportunidades oferecidas pela IA da melhor maneira possível.

A previsão do nosso modelo é de que a IA pode aumentar o VAB da economia brasileira em 2035 em US$432 bilhões, ou seja, uma elevação de 0,9 ponto percentual em relação ao cenário da linha de base. Deste montante, US$192 bilhões virão através do canal de aumento da capacidade da mão de obra e do capital, US$166 bilhões através do canal de automação inteligente e os restantes US$74 bilhões, através do canal de difusão da inovação.

O setor público do país é vasto, sendo responsável por aproximadamente 35 por cento do valor agregado da economia5 , mas a qualidade dos serviços públicos é um dos objetos de maior descontentamento popular. A IA pode melhorar os serviços públicos nas mais diversas áreas, do transporte público ao controle de doenças

Por exemplo: pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estão desenvolvendo uma tecnologia de aprendizagem automática que revelará quais pacientes admitidos em um centro médico durante um surto de dengue, zika ou chikungunya têm maior probabilidade de ter uma das três doenças. Isto será essencial para a triagem dos pacientes por parte de sobrecarregados médicos tentando priorizar os casos mais graves durante futuras crises.

Os bancos brasileiros, já entre os mais inovadores e ávidos por tecnologia do mundo, têm investido entusiasticamente em soluções de IA. Seus clientes vão gostar disso: em pesquisa recente, 83 por cento dos brasileiros consumidores de serviços financeiros revelaram que confiariam em recomendações bancárias totalmente geradas por computador—contra uma média global de 71 por cento.

A indústria de transformação é outro setor grande da economia brasileira, responsável por 12 por cento do valor agregado. O setor tem sofrido nos últimos 25 anos e a IA oferece soluções inestimáveis para reviver sua produtividade e crescimento. Já existem, no país, startups gerando novas soluções de aprendizagem automática para melhorar o desempenho industrial.

Entretanto, a economia brasileira enfrenta deficiências estruturais persistentes que prejudicam sua capacidade de absorver os benefícios da IA e de outras oportunidades da era digital. Entre estes, a principal é a baixa qualidade do sistema educacional, incluindo uma proporção muito reduzida de jovens adultos na educação terciária e a debilidade de muitas instituições de pesquisa científica. O Brasil se beneficiaria significativamente da construção de ecossistemas de pesquisa mais fortes, tanto nacionais quanto globais, e da promoção de uma mentalidade mais inovadora em toda sua economia. Tudo isso requer atuação sincronizada entre formuladores de políticas e empresas.

A CONSTRUÇÃO DE UM FUTURO COM IA

A visão otimista em relação à inteligência artificial é de que, nas palavras do futurologista Ray Kurzweil, ela pode nos ajudar a dar “grandes passos para resolver os principais desafios” do mundo. Na América do Sul, empreendedores de visão, como Paulo Henrique Souza, da Ubivis, a enxergam como uma oportunidade única para a região dar um “salto em tecnologia”.

A IA, entretanto, tem seus problemas. O empreendedor Elon Musk teme que ela se torne “a maior ameaça existencial” enfrentada pela humanidade. O físico britânico Stephen Hawking considera que “o desenvolvimento da inteligência artificial total poderia significar o fim da raça humana”. Mesmo se estas previsões sombrias não se concretizarem, a IA pode levar a aumentos do desemprego e da desigualdade. Então, o desenvolvimento da AI é uma boa ou uma má notícia? A verdade é que tudo depende de como vamos fazer a transição para uma era de IA.

Para concretizar a promessa da IA como novo fator de produção que pode reacender o crescimento econômico, todas as partes interessadas devem estar extremamente preparadas—intelectual, tecnológica, política, ética e socialmente—para enfrentar os desafios que surgirão com a maior integração da inteligência artificial em nossas vidas. O ponto de partida é a compreensão da complexidade dessas questões.

Referencial:

ABA Journal, “How artificial intelligence is transforming the legal profession”, April 1, 2016.

Agencia Andina, “Robot minero también tendría utilidad en agricultura y desastres naturales”, http://www.andina.com.pe/Agencia/noticia-robotminero-tambien-tendria-utilidad-agricultura-ydesastres-naturales-621069.aspx, 13 July, 2016.

Muchnick, Matías, “This is not a TEDx Talk”, TEDxRenca, https://www.youtube.com/ watch?v=r04dVLT7Ohg.

Heng, Dyna; Ivanova, Anna; Mariscal, Rodrigo; Ramakrishnan, Uma and Cheng Wong, Joyce, “IMF Working Paper – Advancing Financial Development in Latin America and the Caribbean”, 2016

BBVA Research, “Determinantes y perspectivas del uso del internet y de la banca digital en Colombia” https://www.bbvaresearch.com/wp-content/ uploads/2016/08/ColombiaEconomiaDigital.pdf, 5 July 2016

Fonte: Accenture

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